Confira as etapas desde a vacância da Sé Apostólica até a realização da eleição.
“Papa – Todo eleito o é por especial graça, e fica sendo um predestinado instrumento dos desígnios de Deus em relação à Igreja e ao gênero humano.” – Rui Barbosa.
A escolha de um novo Papa é um dos eventos mais importantes da Igreja Católica e segue conjunto rigoroso de normas estabelecidas pela Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, promulgada por João Paulo II em 1996.
O documento define o processo de eleição do Sumo Pontífice, desde a vacância da Sé Apostólica até a proclamação do novo líder da Igreja.
Formalmente, o conclave foi incorporado ao Direito Canônico no 1º Concílio de Lyon, durante o papado de Gregorio X, suscessor de Clemente IV, em 1274.
Vacância
Quando o Papa falece ou renuncia ao cargo, a Sé Apostólica é declarada vacante.
Durante esse período, o governo da Igreja Católica é assumido pelo Colégio dos Cardeais, mas com poderes limitados. Eles só podem tomar medidas administrativas essenciais e organizar os preparativos para a eleição do novo Pontífice.
O Camerlengo, responsável pela administração dos bens da Santa Sé, deve verificar oficialmente a morte do Papa e providenciar o funeral. Ele também lacra os aposentos papais, administra os bens da Santa Sé e organiza as primeiras reuniões do Colégio dos Cardeais. Ademais, supervisiona o Conclave para garantir que todas as regras sejam seguidas.
O falecido Pontífice é velado na Basílica de São Pedro e sepultado, geralmente no Vaticano. O período de luto dura nove dias, com missas diárias em homenagem.
Se a vacância ocorre por renúncia – como no caso de Bento XVI, em 2013 -, o procedimento é semelhante. Após a declaração oficial de renúncia, o Papa Emérito se retira e a Igreja entra no período de Sé Vacante.
Preparação para a eleição
A escolha do novo Pontífice cabe exclusivamente ao Colégio dos Cardeais, formado por membros da Igreja nomeados pelo próprio Papa.
No entanto, apenas os cardeais com menos de 80 anos no dia da vacância da Sé podem participar do Conclave. O número máximo de eleitores é de 120.
Conclave
A eleição ocorre no Conclave, reunião secreta realizada na Capela Sistina, no Vaticano.
Os cardeais eleitores ficam isolados do mundo externo, alojados na Casa Santa Marta, dentro do Vaticano, para evitar interferências, sendo proibidos de usar celulares ou qualquer meio de comunicação.
O processo começa com uma missa especial na Basílica de São Pedro, conhecida como Missa pro Eligendo Pontifice (“Missa pela Eleição do Papa”). Depois, os cardeais seguem para a Capela Sistina, onde fazem um juramento de sigilo absoluto sobre o processo.
As votações ocorrem em escrutínio secreto.
Cada cardeal preenche um papel com a inscrição Eligo in Summum Pontificem (“Elejo como Sumo Pontífice”) e o nome do escolhido e deposita-a em uma urna sobre o altar da Capela Sistina, pronunciando o seguinte juramento:
“Invoco como testemunha Cristo Senhor, que me há de julgar, que o meu voto é dado àquele que, segundo Deus, julgo dever ser eleito.”
Após cada votação, os votos são contados e queimados: se o Papa não for eleito, a fumaça gerada é preta; se houver um vencedor, a fumaça é branca, sinalizando ao mundo a escolha do novo líder da Igreja Católica.
Eleito
Para ser eleito, o candidato deve obter dois terços dos votos dos cardeais presentes. Se, após várias rodadas de votação, nenhum nome alcançar essa maioria, as regras permitem que se vote apenas nos dois candidatos mais votados, facilitando a definição do novo Pontífice.
Para garantir a transparência das votações, são sorteados entre os cardeais eleitores:
- Três escrutinadores: responsáveis por contar os votos.
- Três infirmarii: encarregados de levar cédulas de votação a cardeais doentes que não podem ir até a Capela Sistina.
- Três revisores: verificam se a contagem de votos foi feita corretamente.
Caso a eleição seja concluída, o cardeal escolhido é perguntado se aceita o cargo e qual será o seu nome papal. Uma vez confirmada a aceitação, ele se torna imediatamente o Papa e pode começar a exercer suas funções.
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Após a escolha, o Cardeal Protodiácono faz o anúncio oficial ao mundo do balcão central da Basílica de São Pedro, pronunciando a tradicional frase em latim: Habemus Papam! (“Temos um Papa!”). O novo Pontífice então aparece para saudar os fiéis e concede sua primeira bênção apostólica, a Urbi et Orbi.
O Papa toma posse da Basílica de São João de Latrão, catedral de Roma, e inicia oficialmente seu ministério como líder espiritual dos católicos no mundo, que pode durar até sua morte ou eventual renúncia.
O papado mais rápido
Após o falecimento do Papa Paulo VI, em 1978, o Colégio dos Cardeais foi convocado para o Conclave. Em apenas um dia de votação, no quarto escrutínio, foi eleito o Cardeal Albino Luciani, Patriarca de Veneza, que escolheu o nome João Paulo I, em homenagem a seus dois predecessores, João XXIII e Paulo VI.
João Paulo I tornou-se conhecido como o “Papa Sorriso”, devido à sua humildade e carisma. No entanto, seu pontificado durou apenas 33 dias, um dos mais curtos da história.
Em 28/9/1978, ele faleceu repentinamente, oficialmente por um ataque cardíaco enquanto dormia.
A morte inesperada de João Paulo I pegou o mundo de surpresa e, com a Sé Apostólica novamente vacante, os cardeais precisaram se reunir para um segundo Conclave no mesmo ano, quando foi eleito João Paulo II.